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O que penso sobre o acidente com Césio 137

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Em setembro de 87 Goiânia se apresentava ao mundo, não por sua beleza ou pela corrida internacional de motos, infelizmente a bela cidade ficara conhecida por uma desgraça anunciada, a qual maculou todo estado que sofreu preconceito do resto do país.

O ocorrido há 25 anos não foi só um acidente, foi um desastre que arruinou centenas de pessoas tirou vidas e causou discriminação ao estado inteiro.

Odesson Alves Ferreira - Presidente da AVCésio
Aquilo foi uma tragédia que trouxe danos incalculáveis, por causa dela ficamos sem passado, perdemos os parentes e amigos que por medo do desconhecido se afastaram de nós, perdemos a condição de trabalhar, o direito de ir e vir, nossos endereços, fotos e enxovais de casamento, documentos e até animais de estimação foram tirados de nós da pior forma possível, foram sacrificados com veneno e até por projétil de arma de fogo no meio da rua como se fossem inimigos.

Fomos retirados de nossos lares no meio da noite e jogados em gramados de futebol como nos tempos do holocausto nazista, aonde fomos lavados com produtos corrosivos como se fossemos objetos, foi muito triste e humilhante saber que estávamos contaminados ou irradiados, mas não só por césio, e sim pela irresponsabilidade de uns e incompetência de outros.

Sofremos as maiores atrocidades ao perder tudo que anos após anos conquistamos com o suor derramado no trabalho cada um ao seu modo e condição, mas com honra e honestidade.

Jogaram-nos em corredores de hospitais sem ao menos esclarecer o que estava acontecendo, o local e as pessoas não estavam preparados para nos receber. Na verdade mais parecia um campo de concentração para leprosos.

Discriminados pelo preconceito de uma sociedade desinformada, era como se todos portassem as mais diversas doenças contagiosas.
De repente nos foi apresentado um grupo de pessoas que se diziam médicos, físicos e enfermeiros, mas na realidade pra nós não passavam de corpos sem rostos, pois todos estavam paramentados como se fossem astronautas ou seres de outro mundo.

Com o passar dos dias começamos perceber que os extra terrestres na verdade éramos nós, por causa do contato com material radioativo as feridas abriram deixando nossos corpos como os de mortos vivos.

Constatação que ficou clara na visita que recebemos do então presidente Sarney, quando exigiram que tomássemos banho mais cedo pra colocar roupas limpas e que ficássemos sentadinhos em um canto expostos para visitação.

Ali acuados pela comitiva que apreciava talvez os últimos momentos de nós moribundos. Eu disse ao governador Henrique Santillo que nossas famílias estavam passando necessidades aqui fora, Ele com voz forte, mas embargada balbuciou, “fiquem tranquilos meus filhos, pois suas
famílias não ficarão desassistidas”, ou seja, morram em paz. Ali me lembrei de que quatro dos nossos já haviam perecido, então pensei quem será o próximo?

O medo era real, pois ao viajar para o hospital Marcilio Dias a impressão é de que seria ida sem volta e dependendo da volta teria que enfrentar a revolta dos algozes comandados pelo insano José Nelto, que irresponsavelmente incitava o povo pra não deixar sepultar naquele campo santo os filhos da terra, mesmo que os túmulos fossem de concreto e caixões de chumbo para que não pudessem mais sair.

Odesson Alves Ferreira - Palestra em escola
O tempo passou, outra tragédia se anunciava foi quando alguém sugeriu que aquelas pessoas até então enjauladas, saíssem para um passeio quando seriam reapresentadas à sociedade, mas deveriam sair escoltados pela policia, foi outra grande humilhação perceber o medo nos olhares assustados da população nos parques e sorveterias.

Finalmente saímos da quarentena depois do natal, meu destino foi morar temporariamente no albergue samaritano, aonde minha família há dias já vinha sendo sugada pelos enxames de muriçocas.

Mais tarde folheando o jornal deparo com uma matéria aonde a então diretora técnica da Fundação Leide declara que “algumas dessas pessoas não sobreviverão mais de 02 anos e meio”, de novo começamos a interrogar, quem vai primeiro?

Graças a Deus a médica estava enganada, mas talvez tenha sido pior, por que as autoridades começaram a imaginar que estavam dando muito às vítimas e então, pouco a pouco foram tirando o mínimo que já nos era de direito. Foi assim com a fundação, a assistência e até com a pensão que já era pouca e se tornou uma miséria.

25 anos se passaram e muitos dos companheiros realmente se foram, aqueles que aqui estão vão morrendo a míngua, isso por inércia dos cientistas e cegueira da justiça que prefere cruzar os braços e negar o nexo causal doença/acidente e mais uma vez chegamos a conclusão que o tão falado direito humano não alcança aqueles realmente necessitados.

Nesta data e em público imploro aos senhores governantes que façam uma reflexão sobre esses 25 anos, é hora de fazer um balanço, aproveitar o que foi positivo e desprezar aquilo que nada acrescenta, reconhecer as falhas e sem vaidade garantir o mínimo de dignidade a essas pessoas que ainda são cidadãs.

É inadimissível tantos bons profissionais exercerem suas funções com total amadorismo por falta de condições de trabalho, mesmo aquele postinho de saúde em que se transformou uma fundação só existe de direito, pois juridicamente o posto não existe de fato simplesmente necessita de um decreto que o governo demora anos para assinar.

Odesson Alves Ferreira - Palestras
Falta vontade politica pra resolver de vez um problema pequeno em relação à grandiosidade do desastre.

É preciso garantir acesso aos verdadeiros donos daquela unidade de saúde. É necessário ter acolhimento com humanismo para reconquistar o público alvo razão da existência da instituição, que hoje chamam de CARA.

Aqui faço um apelo, busquem pesquisadores capazes de nos dar uma resposta quanto às doenças que insistem em acometer os radioacidentados, estamos cansados de ouvir os médicos que tem vínculo com o governo dizerem que as doenças não tem nada a ver com o acidente radioativo. 

Tenho certeza que eles dizem sem o embasamento que nós também não temos, mas posso afirmar que nexo causal doença e falta de assistência ceifou mais de 100 vidas que de alguma forma foram vítimas do desleixo.

Peço em nome dos moradores da 57 que revitalize a rua, erga um memorial no lote que foi contaminado para que amenize um pouco aquele ar fantasmagórico.

Pra finalizar quero dizer que por várias razões nós vítimas do maior acidente radioativo fora de usinas somos totalmente contra a mineração de urânio em alta escala, a construção de armas bélicas e as usinas nucleares.
Tenho dito...


FONTE: Fala de Odesson Alves Ferreira durante o evento do dia 28/09/2012

 
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Monge budista fala sobre Fukushima na UFBA

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Convidamos para a palestra de Ademar Kyotoshi Sato, Monge do Templo Shin Budista Terra Pura de Brasília, sobre o tema "O Efeito Fukushima e o Perigo Nuclear no Brasil” que será realizada no dia 1º de outubro (segunda-feira próxima) às 18 hs, no Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da UFBA. No evento, promovido pela Rede Brasileira de Justiça Ambiental, Movimento Paulo Jackson – Ética, Justiça, Cidadania e a disciplina Ambiente e Saúde Coletiva do ISC, o Monge Sato falará sobre o pós-Fukushima na política nuclear planetária.

Ademar Sato, que se tornou monge em 1998, após concluir estágio nos Mosteiros de São Paulo e Kyoto (Japão), comentará impressionantes fotos da tragédia, apresentadas pelo fotógrafo japonês Sakamoto na Cúpula dos Povos/Rio+20. São imagens que expressam o terror, a angústia e a desesperança que pode provocar o vazamento radioativo de usinas atômicas, cujo efeito é amplo, interdependente e põe em risco a vida na Terra.
Ademar Sato auxiliou japoneses que vieram ao Brasil
Por sua origem nipônica, Monge Sato talvez seja o brasileiro (http://www.terrapuradf.org.br/o-monge/biografia) que melhor pode fazer uma conexão entre as tragédias vivenciadas pelo desenvolvimento da tecnologia nuclear no Japão e a ameaça que representa no Brasil, o uso dessa mesma tecnologia para gerar energia elétrica. Ele esteve duas vezes em Fukushima –terra natal de sua mãe, onde ainda tem familiares. Ali, soube que foi um irmão da sua mãe quem iniciou as negociações para a instalação da usina nuclear, quando era governador no final dos anos 50. 
Depois de conhecer e sentir o horror dos prejuízos sócio ambientais causados pela contaminação provocada pelo derretimento dos reatores atômicos, o Monge abraçou a luta antinuclear no Brasil e no mundo. Da Bahia, vai a São Paulo, para atividade do movimento antinuclear brasileiro, seguindo, mais uma vez, ao Japão onde participará de seminários inter-religiosos sobre Paz, Religião e a questão nuclear. Fará ainda palestras nos templos budistas de Hokkaido, que tem recebido os refugiados de Fukushima.
Acompanhando bem de perto o drama das vítimas do pior acidente nuclear japonês, o Monge está dedicado a uma missão:  “Vou arriscar a insolência de lembrar aos japoneses que eles não podem fugir à responsabilidade de assumir o papel crítico do atual modelo de desenvolvimento mundial, não só por ser o único povo que sentiu os horrores da explosão nuclear provocada propositalmente pela ignorância humana, em Hiroshima e Nagasaki, mas também porque, apesar disso, foram obrigados a construir um grande número de usinas nucleares que podem vazar radiação letal a qualquer momento” (http://www.terrapuradf.org.br/2012/09/11/carta-do-monge-a-um-brasil-livre-de-usinas-nucleares/), afirma.
Serviço:
Palestra do Monge Sato, do Templo Shin Budista Terra Pura de Brasília, sobre o tema "O Efeito Fukushima e o Perigo Nuclear no Brasil”
Data: 1º de outubro (segunda-feira), às 18h.
Local: Instituto de Ciências da Saúde (ICS) da UFBA
Rua Basílio da Gama, s/n, Campus Universitário do Canela, Salvador-Ba (atrás do Hospital das Clínicas)
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25 anos do desastre radioativo em Goiânia

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    O fenômeno da radioatividade descoberto pelo físico francês Henri Becquerel em 1896, mostrou que o núcleo de um átomo muito energético tende a se estabilizar, emitindo o excesso de energia na forma de partículas e ondas. As radiações emitidas por esses núcleos chamadas de partículas, alfa e beta (pouco penetrantes) possuem massa, carga elétrica e velocidade. Os raios gama são os mais perigosos por serem mais penetrantes (energéticos), e de efeitos extremamente nocivos para a vida, são emitidos na forma de ondas eletromagnéticas, não não possuem massa, e se propagam com a velocidade de 300.000 km/s.

    Portanto, quando temos a presença indesejável de um material radioativo em local onde não deveria estar, existe assim a contaminação radioativa que gera irradiações. Para descontaminar um local, retira-se o material contaminante. Sem o contaminante o lugar não apresentará irradiação, nem ficará radioativo, irradiação não contamina, mas contaminação irradia.

     Feito este preâmbulo, relembremos o ocorrido há 25 anos, naquele 13 de setembro de 1987, no município de Goiânia (GO), considerado o maior acidente radiológico do mundo. Um aparelho de radioterapia contendo o material radioativo césio-137 (produzido em reatores nucleares) encontrava-se abandonado no prédio do Instituto Goiano de Radioterapia (IGR), instituto privado, no centro de Goiânia, desativado há cerca de 2 anos (isto mesmo, havia 2 anos que o equipamento estava abandonado no local). Dois homens, Roberto e Wagner, à procura de sucata, entraram no prédio do Instituto sem nenhuma dificuldade, pois o mesmo se encontrava em escombros, sem portas e nem janelas, e levaram o aparelho até Devair, dono de um ferro-velho. Durante a desmontagem do aparelho, foram expostos ao ambiente 19 g de cloreto de césio-137 (CsCl), pó semelhante ao sal de cozinha. O encontrado não era exatamente na forma de pó, mais parecia como uma pasta, de cor acinzentada, e virava pó quando friccionado. Mas o que chamava muita atenção é que no escuro, brilhava intensamente com uma coloração azulada. Encantado com o brilho do material, Devair, passou a mostrá-lo e até distribuí-lo a amigos e familiares, inclusive para os irmãos Odesson e Ivo, que levou um pouco de césio para sua filha, Leide.

   Expostas ao material radioativo, às pessoas começaram a desenvolver sintomas da contaminação (tonturas, náuseas, vômitos e diarréia), algumas após horas de exposição e outras após alguns dias, levando-as a procurarem farmácias e hospitais. Foram medicadas como portadoras de uma doença contagiosa. Os sintomas só foram caracterizados como contaminação radioativa em 29 de setembro, depois que esposa do dono do ferro-velho Maria Gabriela, levou parte do aparelho desmontado até a sede da Vigilância Sanitária. No dia 23 de outubro daquele ano morria Maria Gabriela, esposa de Devair e sua sobrinha Leide. Devair, juntamente com outras 15 pessoas, foram encaminhadas para tratamento de descontaminação no Hospital Naval Marcílio Dias no Rio de Janeiro, vindo a falecer em 1994. Nestes 25 anos 6 pessoas da mesma família Alves Ferreira vieram a óbito.

       Para a verdade dos fatos, é necessário deixar registrado que o governo na época não sabia ainda o que estava acontecendo. Até que no dia 29 de setembro, um dia após Maria Gabriela e Geraldo (catador de recicláveis que morava no ferro-velho) terem levado a peça que continha o césio a Vigilância Sanitária. O físico Walter Mendes, de férias na cidade, solicitou um contador Geiger do escritório da Nuclebrás de Goiânia, emprestando-o a Vigilância Sanitária. E ai sim, foi constatado a radioatividade.

     A propagação do césio-137 para as casas próximas onde o aparelho foi desmontado se deu por diversas formas. Merece destaque o fato do CsCl ser higroscópico, isto é, absorver água da atmosfera. Isso faz com que ele fique úmido e, assim, passe a aderir com facilidade na pele, nas roupas e nos calçados. Levar as mãos ou alimentos contaminados à boca resulta em contaminação interna do organismo, o que aconteceu com Leide de 6 anos de idade. Oficialmente, segundo a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), quatro pessoas morreram, e além delas, das 112.800 pessoas que foram monitoradas, em 6.500 foram encontradas contaminação discreta, mas apenas 250 apresentaram contaminação corporal interna e externa que mereceram maior atenção e acompanhamento. Destas, 49 foram internadas e 21 exigiram tratamento médico intensivo.

    Os trabalhos de descontaminação dos locais afetados produziram 6.500 toneladas (somente recentemente reconhecida pela CNEN ) de lixo contaminado com apenas 19 g de césio-137. O lixo armazenado em caixas, tambores, containeres eram constituídos de roupas, utensílios domésticos, plantas, solo, animais de estimação, veículos, materiais de construção (algumas casas foram implodidas, sem que pudesse tirar nada de dentro, nem brinquedos, fotografias). Todo este lixo radioativo foi armazenado em um depósito construído na cidade de Abadia de Goiás, vizinha a Goiânia, onde deverá ficar, pelo menos 180 anos.


     Quatorze anos depois, o governo de Goiás incluiu mais 600 pessoas na lista de vítimas. O Ministério Público Estadual (MPE) chegou à conclusão que, policiais e funcionários que trabalharam durante o período da tragédia foram contaminados e alguns morreram em conseqüência de doenças provocadas pelo césio. E estas mortes nunca entraram nas estatísticas oficiais.

      Por outro lado, o Centro de Assistência aos Radioacidentados Leide das Neves Ferreira, criado pelo governo do estado para acompanhar as vítimas, não admitia relacionar ao acidente com o césio, as mortes e as doenças denunciadas pelo MPE. Foi então assinado um acordo entre o Estado e o MPE para que as novas vítimas, seus filhos e netos recebessem assistência médica e indenização.

   Após vinte e cinco anos do desastre radioativo, as várias pessoas contaminadas pela radioatividade não recebem os medicamentos, que, segundo leis instituídas, deveriam ser distribuídos pelo governo. E muitas pessoas envolvidas diretamente com o ocorrido, ainda vivem nas redondezas da região do acidente, entre as Ruas 57, Avenida Paranaíba, Rua 74, Rua 80, Rua 70 e Avenida Goiás, sem oferecer nenhum risco de contaminação.

   Este desastre deixou marcas profundas nas pessoas mais diretamente afetadas e que sobreviveram, e em todo município. O que caracterizou este episódio, e deixou evidente a sociedade, foi o despreparo, a inoperância, o improviso e o desinteresse demonstrado pelo poder público com a saúde das pessoas, principalmente manipulando informações.

      A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) ficou desnudada diante do grave desastre de Goiânia. Mas não é somente a CNEN, mas todas as atividades nucleares no Brasil continuam surpreendendo negativamente, pois transcorrido 25 anos as atitudes e a postura de hoje são semelhantes a do passado. Pouca coisa mudou, em relação à transparência e a prepotência. E o descrédito a esta autarquia é cada vez mais percebido pela população, quando ela se informa e toma conhecimento das atividades desenvolvidas na área nuclear, onde sobressai a visão miliciana de soberania e defesa nacional, em que tudo é sigiloso, tudo é secreto.

      O exemplo mais recente que acontece, ou podemos dizer a tragédia anunciada, é o que atinge as populações vizinhas da mina de urânio de Caetité na Bahia. Mas esta é outra estória que devemos estar atentos e evitar que nosso povo morra pela (ir)responsabilidade dos governantes.


Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco

Odesson Alves Ferreira
Associação das Vitimas do Césio 137/AVCésio

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Brasil investiga apreensão de material radioativo na Bolívia

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Após apreensão de duas toneladas de material radioativo em um edifício em La Paz, o Valor apurou que a Polícia Federal e a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) investigam uma possível rota de contrabando de urânio extraído em solo brasileiro rumo à Venezuela e que poderia ter como destino final o Irã.
O risco foi evidenciado na noite de anteontem, quando o ministro do Interior da Bolívia, Carlos Romero, anunciou que a polícia havia apreendido duas toneladas de urânio na garagem de um edifício no centro da capital. Quatro pessoas foram presas na operação, fruto, segundo o ministro, de uma investigação que durou 45 dias.
O prédio onde foi feita a apreensão é vizinho à Embaixada dos Estados Unidos e à residência oficial do embaixador do Brasil em La Paz, Marcel Biato. Além disso, o edifício abriga os adidos militares da Venezuela.
Ontem, no entanto, Romero recuou, dizendo que "a possível existência ou não de urânio ainda merece uma investigação científica". Ele encarregou o Instituto de Tecnologia Nuclear e o Serviço de Geologia e Minas do país de fazer as análises. Disse ainda, sem explicar como chegou a tal informação, que o material - uma série de rochas embaladas em sacolas de pano na caçamba de uma camionete - teria saído do Brasil, passando pela Bolívia com destino ao Chile, de onde seria embarcado para a Europa.
Uma fonte do governo brasileiro disse ao Valor que a Polícia Federal e a Abin já investigam rumores sobre uma rota de contrabando de material radioativo extraído no Brasil. "Se o material apreendido contiver efetivamente urânio, isso confirma indícios de que existe uma rota de comércio de urânio clandestino exportado do Brasil pelo Estado boliviano do Beni", disse a fonte. "Já ouvíamos isso, estávamos tentando investigar. Uma de nossas fontes policiais tem nos confirmado esses rumores. Agora, a Abin e a Polícia Federal terão que se envolver oficialmente no caso."
A suspeita em Brasília é que o urânio entre ilegalmente na Bolívia e seja exportado como outro minério para o Chile. Seguiria então para a Venezuela e, de lá, chegaria até o Irã, país aliado do regime do presidente venezuelano, Hugo Chávez, e que está sob embargo internacional por suspeitas de que seu programa nuclear seja destinado a construir uma bomba atômica. Consultada pela reportagem sobre uma possível investigação do caso, a Polícia Federal não respondeu.
No momento da apreensão, dois dos detidos estavam sobre a caçamba da camionete sem nenhum tipo de proteção, segundo o jornal boliviano "La Razón".
Ontem, o presidente da estatal Corporação Mineira da Bolívia, Héctor Córdova, descartou que o material seja perigoso, na forma em que foi encontrado. "Em um primeiro momento, pensou-se que era mineral que contivesse urânio. Mas isso foi rapidamente descartado, pelo menos como urânio radioativo, pelas medições feitas com os equipamentos adequados ao longo do dia [terça]", disse Córdova em entrevista coletiva.
Ele disse ainda que o país não produz urânio e que o material apreendido, "pelas características do mineral", pode ser tântalo, usado na fabricação de componentes eletrônicos de produtos como telefones celulares e computadores.
Segundo Luiz Filipe da Silva, assessor da presidência da estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), o Brasil é o maior produtor de nióbio do mundo, metal frequentemente encontrado na natureza junto com o tântalo. Segundo ele, é possível encontrar urânio na mesma rocha que contém o tântalo. "Em tese, é possível extrair urânio das fontes mais exóticas. O nióbio é muito valioso, o tântalo, mais ainda, e o urânio pode ter diversas utilizações", disse. "Mas eu desconheço qualquer instalação que retire o urânio desse tipo de fonte."

FONTE: Texto - Valor Econômico 30/08/2012
Fotos - Portal R7
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