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Amianto e lixo radioativo são discutidos durante Audiência Pública

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A Câmara Municipal realizou, no último dia 26, uma Audiência Pública para discussão de dois assuntos: a utilização do amianto e o armazenamento de lixo radioativo no Planalto de Poços de Caldas. A proposta para realização do debate partiu da Comissão de Justiça Legislação e Redação Final, presidida pela vereadora Regina Cioffi (PPS). Participaram do evento profissionais das mais diversas áreas, como membros do Ministério do Trabalho, físicos, médicos, especialistas em radiologia, pesquisadores, empresários e dirigentes da INB.

Na primeira fase dos trabalhos foram discutidas questões relacionadas ao uso do amianto. Em seu pronunciamento, a vereadora Regina esclareceu que o motivo da discussão era possibilitar que várias opiniões sobre o assunto fossem expostas a fim de subsidiar as decisões das Comissões da Câmara ao analisar o Projeto de lei, em tramitação, sobre a proibição do amianto no município.

A engenheira técnica do Ministério do Trabalho de São Paulo, Dra. Fernanda Giannasi, apresentou dados colhidos durante sua atuação nesta área, afirmando que não existem níveis aceitáveis de amianto para o ser humano e que esta substância é comprovadamente cancerígena. Em seguida, manifestou-se o Dr. Milton do Nascimento, médico do trabalho e gerente de Saúde Ocupacional da Sama Minerações Associadas S.A. Ele afirmou que a maneira de produção adotada atualmente no Brasil é modelo para o mundo e que, desta forma, não existe riscos significativos para o trabalhador do amianto. Ele disse, ainda, que esta substância pode estar presente naturalmente em águas de lagos, pois trata-se de uma rocha presente na natureza.

Os inscritos para uso da palavra também se manifestaram. Dentre eles estavam sindicalistas e presidentes de associações de trabalhadores, que apresentaram manifestações tanto a favor quanto contra a utilização do amianto.


Lixo radioativo


Após as manifestações sobre o tema amianto, os debates giraram em torno do assunto lixo radioativo. Em primeiro lugar, manifestou-se o Dr. Walter dos Reis Pedreira Filho, pesquisador da FUNDACENTRO - Ministério do Trabalho e Emprego. Ele falou de projetos desenvolvidos pelo órgão relativos a pesquisas sobre a exposição de trabalhadores à radiação ionizante e ultravioleta. Também abordou as normas de segurança existentes e o direito do trabalhador de saber sobre o que ele está manipulando e sobre a necessidade de monitoramento constante dos trabalhadores para se prevenir problemas de saúde. Em seguida, se manifestou o Dr. Otto Bittencourt, diretor de Recursos Minerais da INB – Unidade Poços de Caldas, que comentou sobre os profissionais presentes de todas as áreas existente na empresa e que não se conhece nenhum caso de doença associada à exposição do urânio, uma vez que o trabalho de monitoramento é constante na área da empresa.

No entanto, o maior questionamento dos vereadores se referiu ao depósito de rejeitos radioativos no Planalto de Poços de Caldas e as conseqüências, a longo prazo, da radioatividade desses materiais, muitos dos quais vieram de fora do município para serem estocados aqui de maneira irregular, conforme inúmeras denúncias que vêm sendo feitas ao longo dos anos e insistentes manifestações do Ministério Público. Questionaram, ainda, o recente problema ocorrido em um dos lagos de contensão que se encontra na área da INB e que vazou gerando contaminação das águas.

A vereadora Regina Cioffi lamentou o posicionamento da INB, uma vez que os representantes da empresa não apresentaram dados completos sobre a estocagem de material radioativo. “A Audiência foi muito produtiva, entretanto quero lamentar a indiferença que a INB tratou a Câmara e consequentemente a população de Poços de Caldas. Sabemos dos problemas com o lixo radioativo e, durante os debates, eles quiseram passar informações de que está tudo bem e que não existem problemas com relação a esse assunto”, afirmou a parlamentar.

Após as discussões, uma das propostas apresentadas pela engenheira Fernanda Giannasi foi que os órgãos de saúde realizem estudos epidemiológicos mais amplos sobre os efeitos da radiação e os índices de adoecimento dos moradores da região de Poços de Caldas, pesquisando-se pelo menos trinta anos passados e dando continuidade através de acompanhamento futuro.

O áudio completo da Audiência Pública encontra-se no site www.camarapocos.mg.gov.br. Mais informações podem ser obtidas pelos telefones 3729-3845/3818. 
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Reflexões sobre a estratégia do lobby nuclear

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Acho que seria oportuno analisar alguns aspectos da ação da indústria nuclear nos últimos tempos (principalmente dentro do Governo Lula) e suscitar uma reflexão sobre o quanto essa estratégia não é recorrente dentro do setor elétrico como um todo.

-> Fatos consumados: a indústria nuclear está muito empenhada em aprovar o pacote do Governo Lula para o setor o quanto antes e em tornar irreversível o máximo de projetos nele contidos.

-> Tudo ao mesmo tempo e agora: rapidez na tramitação das propostas e um número muito grande de ‘frentes de batalha’ abertas simultaneamente obrigam os opositores a se dividirem (em número de militantes, recursos financeiros e tempo) para conseguirem acompanhar o ritmo e a dispersão das ações ofensivas da indústria.

-> ‘Investimento’ na formação de uma nova opinião pública: a conquista de setores importantes da sociedade, promovendo a visita de universitários, jornalistas e parlamentares (vindos de várias partes do país e com todas as despesas pagas) às dependências da indústria.

-> Aproximação com a comunidade científica: ajudar a academia a superar a eterna barreira das parcas verbas de pesquisa, contratando seus pesquisadores, encomendando seus serviços, colaborando na melhoria de seus laboratórios e gabinetes e garantindo que tenha uma visão mais generosa de seus mecenas.

-> Responsabilidade social: satisfação de aspirações e necessidades de comunidades carentes (e, às vezes, não tão carentes) existentes nas proximidades dos empreendimentos propostos, antecipando-se ao surgimento de opositores.

-> Progresso e desenvolvimento: a oferta de vantagens como empregos (de todos os tipos: qualificados ou não, bem remunerados ou nem tanto, temporários ou permanentes, em empresas terceirizadas ou em cargos de confiança do serviço público), de benfeitorias (que rendam ganhos eleitorais para os políticos locais) e, mais modernamente, de royalties sobre aquilo que for produzido.

-> Revisão daquilo que ignoramos: eliminação ‘a posteriori’ dos entraves legais à realização de projetos concebidos e propostos em desacordo com a legislação vigente; esta prática tem sido muito usual e é conhecida popularmente como ‘levar no peito’.

-> Uma mão lava a outra: uma empresa estatal detentora de péssima imagem pública ‘compra’ espaços publicitários em um respeitado jornal de circulação nacional, colaborando para o equilíbrio financeiro daquele veículo, mas garantindo que esse órgão de imprensa passe a ter a ‘visão certa’ de temas ou projetos de seu interesse.

-> Cozinha: uma variação da prática acima: uma empresa estatal de irresponsável conduta pública produz internamente reportagens que lhe são muito favoráveis e faz parecer que estas foram realizadas de maneira independente pelo jornal que as publicou.

-> Fritar o peixe olhando o gato: uma sofisticação da prática anterior, um grandessíssimo banco público ou uma empresa petrolífera estatal muito falada ‘compra’ enormes espaços publicitários em um respeitado jornal de circulação nacional, colaborando para sobrevivência financeira daquele veículo, mas, em troca exige que outro jornal ou revista do mesmo grupo econômico passe a ter a ‘visão certa’ de temas ou projetos de interesse do governo.

Para finalizar, um exemplo da comunicação da indústria nuclear com as crianças e adolescentes das comunidades afetadas por seus projetos. Essa cartilha tem sido largamente distribuída nas escolas públicas de diferentes pontos do país.

Fonte: Este relatório foi escrito pelo ambientalista Sérgio Dialetachi e reflete as suas observações do workshop “Energia Nuclear no Nordeste” e as suas opiniões pessoais sobre os planos de construção de novas usinas nucleares no Brasil.
Sérgio Dialetachi participou do evento em Recife a convite da Fundação Heinrich Boell.

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África, depósito de lixo nuclear

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Por Vladislav Marjanovic, Radio Afrika International

A África não consegue alçar um vôo econômico genuíno. Crises políticas internas, muitas vezes provocadas por países estrangeiros, e as dívidas elevadas são os dois grilhões que prendem a África à sua pobreza. A África está totalmente entregue aos novos donos do mundo e dependente deles, assim como esteve, outrora, sob o jugo dos colonizadores. Poderíamos dizer que a África sempre esteve colonizada.

A diferença entre os antigos colonizadores e os atuais, é que os primeiros inseriam, nas colônias, o mínimo de infra-estrutura e os últimos, não dão a menor importância. O interesse dos novos colonizadores se concentra na exploração de matérias-primas e nos negócios que rendem cada vez mais em espaços de tempos cada vez mais curtos. A exportação de lixo nuclear faz parte desses “negócios”, e é justamente esse problema que vamos abordar.

Foi como um trovão num céu tranqüilo. Menos de duas semanas após começar a vigorar o protocolo de Kyoto e poucos dias antes da Jornada Mundial da Proteção Civil, a PNUE, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, publicou seu relatório sobre as conseqüências do tsunami (26 de dezembro de 2004). Cerca de 100 ministros do meio ambiente reunidos em Nairobi, entre 21 e 25 de fevereiro de 2005 para o 23º encontro do Comitê diretor do fórum mundial de ministros do meio ambiente, deixaram boquiaberto o presidente do comitê, Klaus Topfer, com a notícia de que o tsunami havia lançado nas costas da Somália não somente lixo “normal”, mas também lixo nuclear. Nas regiões atingidas pelo tsunami, um grande número de pessoas teve problemas de saúde pouco comuns. Segundo o relatório da PNUE, houve infecções respiratórias agudas, hemorragias estomacais, reações cutâneas atípicas e até morte súbita.

Para muitos participantes as informações fornecidas pelo relatório da PNUE foram chocantes. Não para a PNUE. Na página 134 do relatório, cujo título é Primeiras avaliações ambientais pós-tsunami, lê-se que a Somália é um dos países subdesenvolvidos que recebem, desde os anos 80, inúmeras cargas de lixo nuclear e outros resíduos nocivos acumulados ao longo da costa do país. Encontram-se entre os resíduos substâncias como urânio, cádmio, chumbo e mercúrio. Evidente que os culpados foram severamente repreendidos, porem não foram devidamente citados. Houve violação dos acordos internacionais sobre a exportação de tais dejetos para a Somália, e parecia pouco ético firmar acordos desse tipo com um país às voltas com uma guerra civil.

A revolta da PNUE parece justa. Mas fica a pergunta: se tais fatos ocorrem desde os anos 80, por que a PNUE não tomou medidas enérgicas para os impedir? Como é possível que a PNUE ignore isso durante 25 anos? É impossível discutir com os dirigentes em Nairobi, é sempre a mesma coisa: “não sabemos nada sobre isso, tomaremos providências futuramente”, dizem as autoridades somalianas do distrito de El Dehere. De acordo com o jornalista italiano, Massimo Alberizzi, tanto a ONU quanto a União Européia, receberam inúmeras queixas relativas aos efeitos sobre o homem e o meio ambiente dos dejetos nucleares e tóxicos na Somália. Não fizeram nada até o momento.

Ainda que não se importem com as queixas dos estados africanos, como explicar a vista grossa que fazem quanto às enormes somas oferecidas pelos países desenvolvidos aos países pobres da África para obtenção de depósito para o lixo nuclear, sobretudo a partir da década de 80? Os países preferidos são: Somália, Guiné-Bissau, Nigéria e Namíbia. Foi necessário esperar até 1988 , quando o escândalo do navio sírio, Zenobia, que passou meses procurando um porto para descarregar cerca de 20.000 toneladas de lixo nuclear, para que a ONU se desse conta da situação . Em 1989, a ONU tomou a iniciativa de criar a Convenção da Basiléia para controlar o transporte de lixo nuclear. Os ecologistas protestaram. Para eles, controlar o transporte de lixo nuclear não significa impedir sua descarga em países do terceiro mundo. O controle foi garantido só em 1995, quando à Convenção juntou-se a proibição aos membros da OCDE de exportar lixo nuclear para os países não membros da organização. Esse acréscimo desagradou aos EUA. Washington recusou-se a assinar o artigo suplementar.

Os outros produtores de lixo nuclear acabaram por encontrar meios para contornar a Convenção. A ODM, de Lugano, chegou a publicar uma lista na Internet com os melhores lugares para despejar lixo tóxico. A Somália encabeça a lista. O diretor da ODM, Giorgio Comerio, teria oferecido um milhão de dólares a um certo Ali Mali, a fim de despejar lixo tóxico no nordeste da Somália. Dois jornalistas italianos, Ilaria Alpi e Miran Hrovatin, foram atrás de mais informações para esclarecer tais transações. Em 18 de março de 1994, foram à cidade somaliana de Bosasso e entrevistaram um funcionário local e, no dia 20 de março do mesmo ano, apenas algumas horas após terem apresentado, por telefone, os resultados de suas pesquisas na RAI (Radio Audizioni Italia), foram assassinados numa rua de Mogadíscio por um grupo de matadores.

Para Massimo Alborizi, do Corriere della Sera, não há dúvida: o “comércio” de lixo nuclear e de outros resíduos perigosos na Somália está nas mãos do crime organizado. Mas parece haver interesses maiores envolvidos. Massimo Scalia, presidente de uma comissão de investigação do parlamento italiano, declarou à Agence Inter Press Service, que a Itália lucra anualmente com o negócio do lixo nuclear 7 bilhões de dólares. Em 2001, foram enviadas 600.000 toneladas de lixo nuclear para a África. Dessa vez, a Somália não foi o único destino. Foram incluídos no itinerário: Zaire, Malawi, Eritréia, Algéria e Moçambique. Diante de tal quantidade de despejos de lixo nuclear, a PNUE procurou agir. Moustapha Tolba, então diretor executivo da PNUE, já em setembro de 1992, pediu, junto aos governos italiano e suíço, o fim do transporte de lixo nuclear. A Suíça reagiu educadamente: disse que estudaria o pedido. A Itália rechaçou prontamente as acusações. O então ministro italiano do meio ambiente, Carlo Ripa di Meana, disse que empresas italianas não faziam parte desse “comércio”. Ficou por isso mesmo. E o negócio do lixo nuclear segue em grande estilo. Segundo informações, oriundas da Somália, o depósito de lixo radioativo, perto de Obbia, não é vigiado pelas milícias somalianas, mas por soldados estrangeiros. De acordo com fonte confidencial, a França e os EUA obtiveram, ainda nos anos 80, permissão para construir um depósito de lixo nuclear na região. Inclusive o general Morgan, em operação no sul da Somália, afirma ter recebido, em Nairobi, a visita de vários representantes de potências estrangeiras querendo permissão, mediante pagamento (que o general diz ter recusado), para despejar lixo nuclear na região.

A Itália rechaçou prontamente as acusações. O então ministro italiano do meio ambiente, Carlo Ripa di Meana, disse que empresas italianas não faziam parte desse “comércio”. Ficou por isso mesmo. E o negócio do lixo nuclear segue em grande estilo. Segundo informações, oriundas da Somália, o depósito de lixo radioativo, perto de Ortes Obbia, não é vigiado pelas milícias somalianas, mas por soldados estrangeiros. De acordo com fonte confidencial, a França e os EUA obtiveram, ainda nos anos 80, permissão para construir um depósito de lixo nuclear na região. Inclusive o general Morgan, em operação no sul da Somália, afirma ter recebido, em Nairobi, a visita de vários representantes de potências estrangeiras querendo permissão, mediante pagamento (que o general diz ter recusado), para despejar lixo nuclear na região.

Mas os representantes do lobby do lixo nuclear seguirão pressionando. Alguns afirmam que são estes que impedem os acordos de paz entre as facções envolvidas na guerra civil da Somália. Também o PNUE está sob pressão. Johannes e Germana Dohnany, afirmam, em livro publicado em 2002, Negócios sujos e guerra santa. Al-Qaida na Europa (Schmutzige Geschäfte und heiliger Krieg. Al-Qaida in Europa), que a PNUE não pode depender do dinheiro que recebem, a cada dois anos, dos países membros. Seria, dizem os autores, arriscado para a PNUE ir contra os países desenvolvidos, que são seus patrocinadores. É uma situação inelutável. Mas o fato é que a PNUE não mudou sua posição em relação ao depósito ilegal de dejetos radioativos na Somália, exceto num ponto: colocou-se maior ênfase nos riscos sofridos pelo homem e pelo meio ambiente por conta do despejo inconseqüente de lixo nuclear. De fato, o relatório do PNUE examina detalhadamente os vários impactos sobre os manguezais, recifes de corais, efeitos sobre a pesca e lençóis freáticos produzidos por dejetos nucleares que ficaram à deriva ao longo da costa do país.

Os danos causados às pessoas – algumas inclusive já morreram – são laconicamente aludidos. Os autores do relatório queixam-se de não ter sido possível fazer pesquisas no local, queixa que serviu de justificativa para a conclusão neutra do relatório que se ocupa, exclusivamente, dos danos ao meio ambiente e as conseqüências do aquecimento global para a diversidade natural da Somália. A questão do futuro das vítimas humanas dessa atividade comercial inescrupulosa não é abordada pelo relatório do PNUE.

Não nos parece possível condenar os donos do poder, que não tem qualquer escrúpulo em sacrificar vidas humanas, e estão transformando um país todo (logo o continente) em depósito de lixo radioativo.

Mas o que fazer quando o depósito de resíduos tóxicos custa 250 dólares por tonelada na Europa, e apenas 2,5 dólares na África? É o que se conclui do relatório do PNUE. A AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) não publica quaisquer dados relativos à quantidade de dejetos produzidos nas 430 centrais energéticas em atividade. É compreensível: o capital privado, que exerce controle sobre as organizações internacionais, dita as leis. E entre essas leis, a lei do silêncio.

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Lixo radioativo ameaça região de Poços de Caldas

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Radioatividade é assunto recorrente em Poços de Caldas. Agora a questão ganha corpo e ensejou representações da Câmara Municipal à Justiça, por obra das vereadoras Maria Cecília (Ciça) Figueiredo e Regina Cioffi, aliando oposição e situação em torno do preocupante tema. O assunto é grave e até então não havia sido tratado com tanta profundidade quanto mostrado na excepcional reportagem da jornalista Joelma Couto, publicada na edição 160 da revista Caros Amigos - trabalho de perfil intelectualizado e presença obrigatória nas mãos mais importantes do Brasil há 14 anos.

A pauta mereceu inclusive chamada de capa: “Ameaça Radioativa no Sul de Minas”. Confira a íntegra da reportagem abaixo -o texto é extenso, mas representa leitura fundamental. A esperança é que o assunto ganhe a mídia local e, principalmente, os gabinetes do poder municipal, para que as autoridades venham a público não apenas com o discurso tranquilizador, mas comprovando cabalmente a situação. E que seja franqueado o livre acesso de imprensa e autoridades às áreas sob suspeita.


Lixo radioativo ameaça região de 
Poços de Caldas

Vereadores da cidade querem que os materiais radioativos mesotório e torta ll, estocados nas instalações do Complexo Industrial de Urânio de Caldas (MG), sejam retirados de lá.

Foto: R Caruso


Por Joelma Couto
Quem nasceu na região do planalto de Poços de Caldas, Minas Gerais, após 1977, cresceu ouvindo muitas histórias sobre a mina de urânio Osamu Utsumi, localizada no município de Caldas. Uns contam que na infância ouviam dizer que lá se fabricava a bomba atômica, outros ouviam boatos que ligavam o urânio ao ex-ditador iraquiano Saddam Hussein, confirmados no livro “Saddam, O Amigo do Brasil”, do jornalista Leonardo Attuch. Segundo narra Attuch, “Entre os anos de 1976 e 1990, Brasil e Iraque foram grandes parceiros comerciais. Uma das mais sigilosas operações entre os governos do general João Batista Figueiredo e de Saddam Hussein aconteceu no dia 14 de janeiro de 1981. Foi quando dois aviões iraquianos decolaram das pistas do Centro Tecnológico Aeroespacial, em São José dos Campos, e voaram em direção a Bagdá, carregados com o urânio que vinha das minas de Poços de Caldas”.

Em 1982, deu-se início à operação comercial para produção de concentrado de urânio, que durou até 1995. Não se sabe exatamente quantas toneladas de urânio foram extraídas da mina, que fica em um local conhecido como Campo do Cercado. Sabe-se que a produção foi muito pequena, algo em torno de 4.500 toneladas, segundo o site oficial da INB, e 1.200 toneladas segundo folder sobre a produção da mina.

Após a paralisação total das atividades de lavra, iniciou-se outra polêmica na região. Em São Paulo, a Usina de Santo Amaro (Usam), também conhecida por Nuclemon, entrou em processo de descomissionamento, processo de desativação de uma instalação nuclear ao final de sua vida útil, observando-se todos os cuidados para proteger a saúde e a segurança dos trabalhadores, das pessoas em geral e também do meio ambiente.

No entanto, para se descomissionar é necessário desmontar todas as construções envolvidas, retirar até mesmo a terra que se tornou radioativa e depositá-los em um local seguro. Como no Brasil não existem depósitos definitivos, assim como no resto do mundo, a solução foi enviar para a área da antiga mina de urânio de Caldas. A população da região se revoltou. Milhares de toneladas dos materiais radioativos torta ll e mesotório produzidos pela Usam já estavam estocados no local, e os moradores da região ainda teriam que mais uma vez aceitar estes vizinhos indesejáveis?

Maria Augusta Barbosa, moradora de Caldas, conta: “Ficamos revoltados, não fomos nós que produzimos este lixo, por que devemos aceitá-lo aqui?”. Depois de muito barulho da população, apoiada pelo Greenpeace, e da intervenção de autoridades, como o ex-juiz da comarca da Caldas, Ronaldo Tovani, e do ex-secretário de Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais, Tilden Santiago, o então governador Itamar Franco proibiu a entrada no Estado de Minas de lixo radioativo oriundo de outros Estados. O pouco que restou em São Paulo ficou no depósito da Usina de Interlagos, ao lado do terreno que abrigará o futuro templo do Padre Marcelo Rossi.

VEREADORES PREOCUPADOS

No último dia 6 de abril, o gerente de descomissionamento da Indústrias Nucleares do Brasil – Caldas, Luiz Augusto de Carvalho Bresser Dores, compareceu à sessão da Câmara Municipal de Poços de Caldas, a convite do vereador Tiago Cavelagna (DEM). Bresser afirmou que mais de 12 mil toneladas de torta ll estão estocadas na unidade de Caldas, mas não trazem nenhum tipo de risco para a população. Os números são altos: 7.588.726 toneladas de rejeitos radioativos, 2.302 toneladas de mesotório em silos aterrados e 1500 toneladas estocadas na barragem de rejeitos, além de 10.159 toneladas de torta II em bombonas e o restante em silos de concreto aterrados.

Outra preocupação é o chamado bota-fora: milhões de toneladas do que sobrou da lavra de urânio e que contêm minerais ricos em enxofre (sulfetos). Estes minerais sofrem um processo de oxidação natural e em contato com a água da chuva produzem ácido sulfúrico. O ácido dilui na água e solubiliza os metais pesados, como por exemplo o urânio. Mesmo que em quantidades pequenas, quando a água é drenada estes metais também são transportados para a barragem de drenagem ácida.

Esta mistura de metais pesados e ácidos tem caráter nocivo e pode alcançar os mananciais ou mesmo o lençol freático da região, comprometendo o meio ambiente. Quando chove forte, existe a possibilidade da barragem transbordar e esta água ácida cair no Ribeirão Soberbo, que faz parte da Bacia Hidrográflca do Rio Verde, que flui para o município de Caldas, com prejuízo para a fauna e flora da região. Também está dentro dos limites da mina a Bacia Hidrográflca das Antas, que flui para Poços de Caldas.

A vereadora e médica Regina Cioffi (PPS) entregou ao Ministério Público de Poços de Caldas, no dia 18 de junho, um dossiê com denúncias contra a INB-Caldas. Ela afIrmou que “a INB é uma estatal, está sob jurisdição federal, por isso pedi ao MP de Poços de Caldas que encaminhe as denúncias ao Ministério Público Federal”.

Já a vereadora Maria Cecília Opípari (PSB) quer que a torta II e o mesotório depositados em Caldas voltem para São Paulo. “Tenho medo que a INB Caldas se torne um depósito de lixo radioativo proveniente de todo o país”, afIrma a vereadora.

Maria Cecília levará as denúncias contra a INB para Brasília, onde participará da Conferência Nacional das Cidades, como delegada do Estado de Minas Gerais e da cidade de Poços de Caldas. Segundo Maria Cecília, existem indícios de que no dia 28 de maio houve um rompimento em uma barragem que fIca dentro do complexo da INB-Caldas e cujas águas são despejadas no Ribeirão das Antas. “Não quero alarmar a população, mas temos que tentar buscar esclarecimentos”, afirma a vereadora.

Estudos feitos em vários países comprovam o aumento da incidência de câncer em crianças que moram perto de instalações nucleares. Dados estatísticos de órgãos públicos da saúde atestam altos índices de câncer nos municípios de Santa Rita de Caldas, Ibitiura de Minas, Caldas, Andradas e Poços de Caldas, todos na região onde se localizam os depósitos de lixo radioativo. Segundo Regina Cioffi nunca se produziu torta II e mesotório na unidade da INB-Caldas. Para ela, “quem produziu o lixo, que arque com as consequências”.

A Câmara Municipal de Poços de Caldas formou uma comissão composta por cinco vereadores, que deverão visitar as instalações da INB Caldas, pois existem indícios de que o material radioativo não está acondicionado com segurança. A reportagem teve acesso a fotos que seriam dos depósitos da INB-Caldas, que mostram o comprometimento na armazenagem de grande parte do material, com latões enferrujados e amassados, pallets de sustentação comprometidos.

REJEITO OU ESTOQUE?

Uma das questões que se levanta sobre o material depositado no complexo é se mesotório e a torta II são rejeitos ou estoque estratégico de urânio.

Em 2002 foi assinado um termo de compromisso com o IBAMA. Este termo se referia ao licenciamento ambiental das instalações do complexo industrial. Participaram das negociações o Município de Caldas, a CNEN- Comissão Nacional de Energia Nuclear – e a FEAM- Fundação Estadual do Meio Ambiente, com o objetivo de viabilizar os testes de processamento da monazita, e estabelecer as diretrizes para o licenciamento ambiental e o processamento contínuo destas.

O termo de compromisso criou para a INB – Caldas, dentre outras obrigações, a de definir medidas efetivas para recuperar as áreas degradadas existentes na Unidade de Tratamento de Minérios – UTM de Caldas, decorrentes das atividades anteriores às atualmente pretendidas pela empresa (produção de concentrados de terras raras). Mas retirar o urânio da torta II mostrou-se economicamente inviável. Para que seja dado um destino final a este material, é preciso definir se é rejeito e – assim sendo, ele deve ser levado para um depósito próprio e defmitivo para lixo radioativo – ou, se é material passível de reaproveitamento no futuro, deverá ser acondicionado da forma mais segura possível.

Outra questão normalmente levantada pela população da região diz respeito às prioridades do governo: é mais importante para o Brasil definir o que vai fazer com o lixo radioativo e como, ou investir bilhões em novas usinas nucleares? Não sabemos sequer o que fazer com a torta II existente no país há pelo menos 50 anos? E o mais grave, qual será o destino do combustível dos reatores de Angra?

Não menos importante é saber que destino a INB dará à unidade de Caldas. Segundo relatório anual da empresa em 2006, “as atividades da Unidade de Tratamento de Minério (UTM) da INB, situada em Caldas (MG), foram interrompidas, ficando operacionais somente as atividades de controle e monitoração do meio ambiente, tratamento de águas marginais, efluentes, controle da barragem de rejeitos e aquelas relacionadas com manutenção. A unidade de Caldas será submetida ao processo de descomissionamento que inclui o Plano de Recuperação das Áreas Degradadas – PRAD. O processo licitatório prevê a apresentação de propostas para fevereiro de 2007″.

Já o relatório anual 2008 diz que “a INB tomou a decisão de transformar esta unidade num centro de excelência laboratorial para análise de conteúdos radioativos de materiais de toda empresa, os laboratórios já estão sendo modernizados e o quadro de material especializado está sendo ampliado”. Mais uma vez, a empresa não deixa claro quanto tempo levará para finalizar o descomissionamento da mina do Cercado. A unidade será um depósito definitivo?

DEPÓSITO DEFINITIVO

No Brasil, apenas em Abadia de Goiás existe um depósito definitivo para rejeitos radioativos. O depósito foi criado para acondicionar o lixo radioativo produzido pelas cerca de 19 gramas de césio 137. O acidente de Goiânia foi o maior em área urbana do mundo e é estudado por cientistas norte-americanos, como o cenário de um possível atentado nuclear terrorista. Apenas 19 gramas foram suficientes para contaminar diretamente 6.500 pessoas.

Odesson Alves Perreira, presidente da Associação das Vítimas do Césio 137 e do Conselho Estadual de Saúde, participou da OfIcina Anti-nuclear do Nordeste, realizada em abril deste ano, onde relatou sua história e de outros atingidos pelo césio 137. Odesson falou do preconceito de que é vitima até os dias de hoje. Além de perder a sobrinha, a casa, tudo que lembrava sua história, fotos, documentos, tudo que pertencia a ele foi para o depósito.

Odesson conta que perdeu familiares, amigos, emprego. Quando foi autorizado a voltar ao trabalho, foi vítima do medo que todos tinham dele. Ninguém se aproximava, nem mesmo o médico trabalhista, que o aconselhou a aposentadoria. “Quando fui comprar uma nova casa, tive uma surpresa que não esperava: a vizinha fez um abaixo assinado exigindo que eu e minha família não pudéssemos morar naquela rua, orientada por seu médico particular, afirrmava que a radiação emitida pela família poderia agravar seu estado de saúde. Reconstruir a vida, recomeçar não é fácil”, afIrma Odesson.

É consenso entre especialistas da área e ambientalistas que se crie no País um órgão regulador autônomo e independente para a fiscalização das áreas de radioproteção e segurança nuclear. Rogério dos Santos Gomes, físico e doutor em Engenharia Nuclear, explica que “na área de rejeitos o Brasil possui uma legislação caótica sobre a seleção de locais e construção dos depósitos que dispõe que cabe à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN),projetar, licenciar, construir, operar e fiscalizar os depósitos, enquanto a Convenção Internacional sobre a segurança do combustível usado e segurança de rejeitos, aprovada pela Agência Internacional de Energia Atômica, assinada pelo Brasil, aprovada pela Câmara e pelo Senado e sancionada pelo Presidente da República, dispõe que cada país deverá assegurar a efetiva separação entre os órgãos que licenciam e fiscalizam e os que constroem e operam locais de rejeitos”.

Que garantia podemos ter se o mesmo órgão que executa é o que fiscaliza? Além do Brasil, apenas Paquistão e Irã mantêm esta estrutura. Ainda segundo Rogério Gomes “em julho de 2008 foi criado pelo presidente da República o Comitê de Desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro (CDPNB), sob coordenação da ministra-chefe da Casa Civil e compreendendo 11 outros ministros de Estado, tendo sido consenso entre todos a necessária criação de uma agência reguladora nuclear, promovida através da separação da CNEN. Hoje, passados quase dois anos, nada de prático foi alcançado, com a coordenação do CDPNB tendo passado para a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, que no seu documento sobre os rumos do Brasil até 2022, não contempla a necessária criação de um órgão regulador independente. Ao que parece, o discurso de aumento do programa nuclear brasileiro não estará associado à criação de estruturas para garantir que toda a atividade nuclear se desenvolva evitando riscos à população e ao meio ambiente”.


CUSTOS MUITO ALTOS

Vendo a energia nuclear pela lógica do aquecimento global, ela parece perfeita, mas, quando colocamos na ponta do lápis toda a contabilidade e os impactos ambientais causados por ela desde a mineração até a destinação final de seus rejeitos, será que realmente estamos prontos para investir no nuclear?

Nos Estados Unidos, a grande polêmica da construção do depósito definitivo no Estado de Nevada ainda não terminou. O governo dos Estados Unidos gastou, só com estudos prévios para definir qual seria o melhor local para o depósito, 7 bilhões de dólares. Os custos da construção estão estimados em 58 bilhões, com vida útil de pelo menos 10 mil anos. Críticos ao projeto temem que o material possa escoar pelos campos ao redor da montanha e contaminar o meio ambiente, além do risco de se transportar o material altamente radioativo por longas distâncias. Caso o depósito da Montanha de Yucca não se concretize, os norte-americanos voltam à estaca zero: onde depositar seu lixo radioativo?

Vazamentos estão por toda parte, até mesmo em um depósito no deserto do Estado de Washington. Colocar num ônibus espacial e enviar para outro planeta? Quais seriam as consequências se acontecesse um acidente com um ônibus espacial carregado de lixo radioativo? A NASA já teve dois sérios acidentes envolvendo ônibus espaciais.

O tsunami que atingiu a Indonésia em 2004 removeu do fundo do mar da Somália, contêineres de lixo radioativo jogados ilegalmente em sua costa. A população da Somália sofreu com hemorragias em vários órgãos, sangramentos na boca, queimaduras de pele, além da contaminação das águas e do solo. Ainda existe a possibilidade que estas pessoas contaminadas possam desenvolver câncer e anomalias genéticas nas próximas décadas.

De acordo com a médica Maria Vera de Oliveira, do Centro de Referência do Trabalhador-Santo Amaro, em São Paulo, “não existem níveis seguros de contato com a radiação”. Por estarem sempre ligados a militares, estes estudos são dificultados. Por mais que se diga que a energia nuclear deva ser usada para fins pacíficos, ela sempre estará muito próxima daqueles que fazem as guerras.

No caso de Nagasaki e Hiroshima até hoje não se sabe quais foram as reais consequências para as futuras gerações Acredita-se que os estudos foram dificultados e até mesmo impedidos para que não se soubesse os reais danos causados pelos Estados Unidos ao Japão, mesmo estando a guerra praticamente acabada e o país destruído.

QUESTÕES ÉTICAS

Ex-trabalhadores da Nuclemon afIrmam que a torta II e o mesotório produzidos na Usam eram estocados no terreno de Interlagos e depois carretas levavam os produtos até Poços de Caldas, onde eram jogados na ribanceira. Um dos entrevistados mostra a cicatriz na barriga, perdeu um rim e tem muitos problemas de saúde. Mas enche os olhos de lágrimas quando conta que ia a Poços de Caldas para ganhar um “extra”, sem saber o alto preço que pagaria. Diz que o pior foi quando ficou sabendo que tipo de trabalho fazia, e que tipo de material jogou na ribanceira. “É triste pensar que posso ter prejudicado muita gente”. Este trabalhador é mais uma vítima do descaso com que o Projeto Nuclear Brasileiro é conduzido.

Heitor Scalambrini, doutor em Energética da Université d’Aix-Marseille III e professor da Universidade Federal de Pernambuco, questiona se é ético deixar para as futuras gerações resolverem os problemas do lixo radioativo que nós produzimos. Ainda segundo Scalambrini, “o PNB nasceu na ditadura e até hoje depende de demandas de alguns setores das forças armadas, fascinados pelo poder que a energia nuclear Ihes traz. Outros grupos de interesse que fazem “Iobby” são os setores industriais “preocupados” com o risco de um apagão, grupos de cientistas, pelo prestígio e oportunidades de novas pesquisas e pelo comando do processo, os fornecedores de equipamentos e as empreiteiras, por motivos óbvios”.

O professor Scalambrini acredita que uma matriz energética diversificada seria a solução para o País, inclusive para aproveitar todo o potencial de fontes alternativas que existem por aqui. Para ele, a energia nuclear talvez seja o futuro, mas ainda há muito o que estudar.

Não se pode subestimar os riscos com segurança. Rogério Gomes acredita que o Programa Nuclear Brasileiro não está maduro, que corremos o risco de um acidente como o de Alcântara, próximo a usinas nucleares. Um estudo feito pela pesquisadora Geórgia Reis Prado concluiu que a população de Caetité, na Bahia, está 100 vezes mais exposta à contaminação por urânio que a média mundial.

A lavra de urânio está associada a metais pesados. Segundo o pesquisador Lamego, um estudo realizado na área de mineração de urânio de Poços de Caldas indica que a “emissão de manganês era muito mais signifIcativa, do ponto de vista da saúde humana, do que aquelas relativas aos elementos radioativos, que sofriam (e ainda sofrem) um rígido controle pela Comissão Nacional de Energia Nuclear”.

O debate aberto e democrático deveria ser pré-requisito para se decidir qual o tipo de energia queremos, e que sociedade queremos construir.

Joelma Couto é jornalista.

Visite o site da revista Caros Amigos: http://www.carosamigos.com.br/
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Mineração de Urânio precisa ser proibida

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Foto: Mina de Urânio em Namíbia, foto do filme “Uranium Thirst
de Norbert Suchanek e Márcia Gomes de Oliveira

A organização Médicos Internacionais para a Prevenção da Guerra Nuclear, IPPNW, exigiu que a mineração de urânio seja proibida mundialmente. Na véspera do Congresso “Mineração de Urânio, Saúde e Povos Indígenas”, que vai começar dia 26 de agosto na Suiça, Frank Uhe, Chefe da IPPNW na Alemanha falou: “Nós não podemos esquecer que a mineração e a concentração de urânio sempre está conectada com perigos graves para a saúde e o meio ambiente.”
A indústria nuclear é uma indústria suja desde o seu começo. Trabalhadores nas minas e as populações locais podem adoecer com câncer, especialmente leucemia, câncer de estômago, câncer do fígado, câncer do intestino, câncer do rim e câncer de pele. Em risco estão também os recursos hídricos. Por exemplo, no norte da Austrália. Lá cada dia 100.000 litros de água contaminada com elementos radioativos e tóxicos da mina de Urânio Ranger Mine está infiltrando no meio ambiente. No mundo, 75 porcento das populações afetadas pelas minas de urânio radioativas são povos indígenas. Por isso, o IPPNW e outros organizadores do congresso como o “Nuclear Free Future Award” e “AG Uranium Network” falam: “Deixe o urânio intocado no chão!”
Os riscos da radioatividade e os riscos da produção de Urânio e das usinas nucleares são constantemente negados, disfarçados ou sonegados pela mesma indústria e os cientistas e governos ligados. Em 2008, no Le Monde Diplomatic, a cientista Alison Katz, que foi durante 18 anos integrante do staff da Organização Mundial da Saúde (OMS) escreveu muito claro em artigo intitulado A conspiração do silêncio: “Durante décadas, os lobbies do fumo, da agroquímica e da petroquímica sabotaram todas as medidas de saúde pública e ambientais que prejudicassem seus lucros. Mas o lobby nuclear tem-se mostrado incomparavelmente mais poderoso: abrange os governos que desenvolvem atividades nesse campo, principalmente dos Estados Unidos, Grã Bretanha e França, assim como poderosas organizações que os perpassam. A desinformação gerada sob pressões bélico-industriais dos Estados é gigantesca. E, o que é pior, a corrupção em torno do setor afeta as mais prestigiadas instituições acadêmicas e científicas.”
No Brasil, já existem várias denúncias sobre a contaminação do meio ambiente por causa da mineração de urânio, antigamente em Minas Gerais, em Poços de Caldas, hoje na Bahia, em Caetité e Lagoa Real. A última denúncia foi feito nas últimas semanas pela Associação Movimento Paulo Jackson e a plataforma DHESCA Brasil (Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais). “Entre os problemas revelados à Plataforma, estão a contaminação do meio ambiente, a falta de controle social sobre a mineradora, os efeitos do lixo radioativo e a ausência de informações sobre os riscos radiológicos que ameaçam trabalhadores, a população e o meio ambiente”, escreveu Zoraide Vilasboas, jornalista da Coordenação de Comunicação da Associação Movimento Paulo Jackson.
Mas o governo brasileiro está ainda investindo em mais usinas nucleares e mais minas – atualmente no Ceará e futuramente na Amazônia. O lobby nuclear do Brasil continua usar frequentemente o mito falso que a energia nuclear é uma energia limpa e segura. Publicado no Jornal da Ciência (09 de agosto de 2010), as Indústrias Nucleares do Brasil afirma que as novas “denúncias de ONG sobre mineração em Caetité são falsas e sem base científica“. “Entidades científicas e organizações especializadas já comprovaram que as atividades de mineração e beneficiamento de urânio da INB em Caetité não provocam nem danos ao meio ambiente nem à população daquela região; portanto, não têm qualquer embasamento técnico as informações que a ONG DHESCA vem divulgando através da imprensa”, falou o INB-Presidente Alfredo Tranjan Filho.
É hora de quebrar este monopólio de desinformação que encontramos não só no Brasil.
Mais informações:

Norbert Suchanek, Rio de Janeiro, é Correspondente e Jornalista de Ciência e Ecologia, colaborador e articulista do EcoDebate.

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A bomba que mudou o mundo

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Com a famosa frase “meu Deus, o que foi que nós fizemos”, pronunciada por um dos tripulantes do avião que conduziu o artefato nuclear sobre território japonês, o mundo relembra os 65 anos do lançamento das bombas atômicas durante a Segunda Guerra Mundial, ambas pelos Estados Unidos contra o Japão, detonadas nas cidades de Hiroshima (6 de agosto de 1945) e Nagasaki (9 de agosto de 1945). O poder de destruição das bombas foi imenso, ao menos 200 mil morreram em Hiroshima e 100 mil em Nagasaki, iniciando, assim, a chamada era nuclear. Esses acontecimentos devem ser lembrados sempre por sua brutalidade e impunidade.

O Japão, único país a ter sido bombardeado em duas ocasiões com armas nucleares reclama há anos a abolição das armas de destruição em massa. A detonação de uma bomba nuclear provoca danos imensos. O grau de destruição dependerá da distância de onde o centro da bomba é detonado, chamado de marco zero (podendo chegar nesse local a temperatura de até 300 milhões de graus Celsius). Quanto mais próximo alguém estiver deste local, maior será a gravidade dos danos. Eles são causados por diversos aspectos: uma onda de calor intensa de uma explosão, pressão da onda de choque criada pela detonação e precipitação de material radioativo. As partículas radioativas que chegam ao solo penetram no manancial d'água e são inaladas e ingeridas por pessoas a uma distância considerável do local de detonação da bomba.

Alguns dos problemas de saúde ocasionados pelo material radioativo incluem: náusea, vômitos e diarréia; catarata; perda de cabelo; perda de células sanguíneas. Estes problemas freqüentemente aumentam o risco de ocorrência de leucemia, câncer, infertilidade, deficiências congênitas, dentre outros males.

O Tratado de Não Proliferação Nuclear, adotado em 1967, teve o objetivo de “congelar” a posse de armas nucleares às cinco potências nucleares da época: Estados Unidos, União Soviética, Inglaterra, França e China. Na prática, o que se verificou foi o inverso, com os esforços de vários países, dentre eles a Índia, o Paquistão e Israel, de produzir armas nucleares, agravando os problemas de proliferação nuclear e criando sérios transtornos no cenário internacional. Lembremos do caso do Iraque acusado de produzir armas nucleares, justificativa usada como uma das causas da sua invasão. Outros países também tiveram a iniciativa de produzir armamentos nucleares, como a África do Sul, Líbia, Irã e Coréia do Norte.

Até o Brasil e a Argentina desenvolveram atividades nessa direção durante o período militar.

Mesmo não havendo provas definitivas de que o nosso país esteja construindo armas nucleares, eventos e pronunciamentos em passado recente levam-nos a crer que o Brasil "recomeçou a flertar" com a idéia de produzir uma bomba atômica, após tentativas anteriores mal sucedidas durante o regime militar. Nos últimos anos diversas autoridades, como o vice-presidente da República José Alencar e o ex-ministro de Ciências e Tecnologia Roberto Amaral (quando no cargo), declararam a necessidade do país dispor de armamento nuclear para defesa preventiva e de suas riquezas, como fator de dissuasão e para impor mais respeitabilidade.

Também o documento sobre a Estratégia Nacional de Defesa lançada em 2008, afirma a “Independência nacional, alcançada pela capacitação tecnológica autônoma, inclusive nos estratégicos setores espacial, cibernético e nuclear. Não é independente quem não tem o domínio das tecnologias sensíveis, tanto para a defesa como para o desenvolvimento”. Embora a Constituição diga que toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos, o assunto está longe de ser considerado um tabu.

A ressurreição do Programa Nuclear Brasileiro é mais um dos indícios da estratégia governamental de tornar o Brasil uma potência atômica. O dinheiro empregado no programa, para a construção e funcionamento de novas usinas núcleoelétricas, permitirá a lubrificação de todas as suas engrenagens. A cada usina que construímos aumentaremos o volume de urânio que produzimos, aumentando assim o saldo com que se espera entrar definitivamente como sócios no Clube Atômico, e para tal é necessário ter a bomba atômica.

O Brasil pela exuberância e diversidade de fontes energéticas renováveis disponíveis em seu território, não precisa da energia nuclear para atender a demanda de energia elétrica, e assim, pode adotar opções mais atraentes do ponto de vista econômico, social e ambiental.

Abrir mão da energia nuclear significa um importante passo para evitar o perigo de uma nova onda de proliferação nuclear, dada a natureza dual da energia nuclear, que se presta tanto para aplicações pacíficas como militares, sem falar dos problemas físicos de segurança nuclear. Não devemos nos esquecer do que afirmou o físico Robert Oppenheimer, responsável pela construção da primeira bomba atômica, quando visitou o Brasil, em 1953: "Quem disser que existe uma energia atômica para a paz e outra para a guerra, está mentindo".





Heitor Scalambrini Costa 
Professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco
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Gaúchos rejeitam instalar usina nuclear no Estado

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Estudo do governo federal avaliará possibilidade de construir novas unidades geradoras no país

Por motivos diferentes, técnicos, empresários e ambientalistas do Rio Grande do Sul resistem à possibilidade de instalação no Estado de uma usina nuclear, em estudo pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e Eletronuclear. Do ponto de vista econômico, o argumento é de que faz mais sentido aproveitar o carvão abundante no Estado, enquanto do ambiental e científico a objeção é relativa ao risco de acidentes e do manejo de resíduos.

Tanto a EPE quanto a Eletronuclear informam que o levantamento de áreas que podem receber usinas nucleares, no Rio Grande do Sul e em outros oito Estados, anunciado ontem em ZH, deve começar dentro de algumas semanas. A justificativa para a avaliação do potencial nuclear é a possibilidade de esgotamento do potencial hidrelétrico. O que ajudou a reabilitar essa alternativa de geração de energia foi o fato de que a geração de gás carbônico, vilão do efeito estufa, é zero.
A Secretaria de Infraestrutura, diz o assessor técnico Wagner Kaehler, não foi consultada sobre o início do estudo. E tampouco se entusiasma:

– É mais caro implantar uma central nuclear do que desenvolver recursos que temos por aqui, como o carvão. Mesmo com o controle, o risco persiste.

Para o coordenador do Grupo Temático de Energia da Fiergs, Carlos Faria, embora possa representar um investimento, uma usina nuclear embute o desafio da administração dos resíduos radioativos e do enriquecimento do urânio. Mesmo tendo jazidas, o Brasil seria obrigado a fazer o enriquecimento no Exterior, sob pena de se transformar em outro Irã – alvo de sanções econômicas causadas pelo programa nuclear.

Brasil tem opções, apontam especialistas


Embora já tenha abrandado sua oposição à aplicação em energia atômica, o físico nuclear Cesar Augusto Zen Vasconcellos, ex-pró-reitor de pesquisa da UFRGS, também prefere outras formas de geração.

– Apesar de as usinas estarem em um estágio de controle muito mais avançado do que no passado, seria melhor esgotar as alternativas. Outros países não têm, mas o Brasil pode desenvolver outras formas de energia. Os riscos diminuíram bastante, mas se ocorre um acidente de grandes proporções, repercute por centenas de anos – pondera o físico.

E nem o argumento da redução do efeito estufa comove Millos Stringuini, consultor ambiental com pós-doutorado em Planejamento e Administração Ambiental, professor da Universidade de Liège, na Bélgica:

– É uma loucura, um absurdo. O Rio Grande do Sul não precisa de usina nuclear. Temos parques eólicos, energia fotovoltaica (solar). Mesmo o tratamento de rejeitos que resulta em material teoricamente sem carga tem problemas. Há pouco, a Noruega processou a Irlanda porque encontrou resíduos no seu bacalhau.


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Vídeo -> Entrevista de Odesson Alves Ferreira

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Quem sobreviveu ao contato com a radiação, luta até hoje pelos seus direitos junto ao poder público. A produção do vídeo é de Joelma do Couto.






Odesson Alves Ferreira é o atual Presidente da Associação das Vítimas do Césio 137 e, pela segunda gestão, Presidente do Conselho Estadual de Saúde de Goiás. Seu irmão Devair Ferreira (vítima fatal) era o dono do ferro-velho que comprou os restos do aparelho de radioterapia. Seu outro irmão, Ivo Ferreira (vítima fatal) era o pai de Leide das Neves Ferreira (Segunda vítima fatal do acidente - aos 6 anos de idade). 

Seu contato direto com o césio 137 se deu no ferro-velho de seu irmão “O Devair estava fascinado com a possibilidade de fazer anel com aquele pó brilhante. Eu peguei uma quantidade menor do que um grão de arroz e espalhei na mão com o dedo indicador. Queria mostrar para o Devair que o material não tinha consistência”. As consequências deste contato foram o enxerto na mão esquerda, dedo indicador da direita amputado em 1989 e o da esquerda, atrofiado.
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Especial -> 65 Anos da Explosão da Bomba Atômica

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A bomba atômica é um ícone da Era Contemporânea. Ela não foi criada pelos japoneses, mas foi no Japão que ela foi pela primeira vez usada contra pessoas, durante a 2ª Guerra Mundial, em agosto de 1945. Desde então a bomba atômica tornou-se símbolo negativo do engenho humano e brinquedo predileto almejado por líderes políticos do mundo, sendo que o povo japonês detém até hoje o trágico recorde de ter sido a única nação a experimentar na carne os efeitos de um bombardeio atômico. 


O que é a bomba atômica e como ela se incorporou à cultura de um povo é algo que Cristiane A. Sato, colaboradora do CULTURA JAPONESA, apresentará nesta matéria.

6 DE AGOSTO


Na história da humanidade poucas efemérides são tão importantes, ou celebradas com tanta tristeza como a data de 6 de agosto.


Em 6 de agosto de 1945, a primeira bomba atômica feita pelo homem e usada contra a própria humanidade explodiu na cidade japonesa de Hiroshima. Em 9 de agosto de 1945, foi a vez de outra cidade: Nagasaki - a maior comunidade cristã do Japão. Estima-se que 70 mil pessoas morreram na hora ou poucas horas depois das explosões. Outras 130 mil morreram nos 5 anos subseqüentes, em função de ferimentos e doenças causadas pela exposição à radiação. Assim, calcula-se que 200 mil pessoas teriam sido o custo pago pela passagem da humanidade para a Era Nuclear, mas estas são cifras mínimas estimadas. A verdade é que nunca se saberá ao certo quantas centenas de milhares de vidas foram tomadas ou afetadas para sempre com apenas duas explosões.
Queimadura radioativa "leve" - apesar da
 intensidade e da área afetada, os médicos
 pouco puderam fazer por esta paciente. Faltava
 até gaze para curativos.
Foto: Hiroshima Peace Memorial Museum


Todos os anos, no dia 6 de agosto em Hiroshima, e 9 de agosto em Nagasaki, são realizadas enormes cerimônias em memória aos mortos das bombas atômicas, com a presença do Imperador e da Imperatriz. As cidades podem ter sido reconstruídas, mas o trauma é permanente. Cada um dos sobreviventes tem uma história de dor e terror, e uma tristeza que nunca desaparece. Muitos não conseguem sequer falar sobre o assunto, mesmo décadas depois. Os poucos que conseguem, mesmo após tanto tempo, não conseguem evitar a voz trêmula e as lágrimas. Em comum, cadahibakusha (sobrevivente da bomba) tem a esperança de que aquilo que aconteceu com eles nunca mais se repita.


Numa época em que a ameaça de que a tecnologia das armas nucleares caia em mãos de grupos extremistas terroristas, e na qual um crescente número de nações almeja a posse de tal tecnologia, apesar dos já conhecidos enormes riscos e poucos benefícios que a energia nuclear oferece, é essencial  relembrar Hiroshima e Nagasaki. Paz mundial não é uma utopia, mas uma necessidade para a sobrevivência da humanidade. O slogan "Hiroshima Nunca Mais" permanece tão atual quanto na época em que foi criado.


Escrever sobre a Bomba Atômica possui dois aspectos distintos, como no filme "Titanic". Assim, neste artigo, o assunto está dividido em duas partes - uma objetiva e outra subjetiva, como no filme. A primeira parte, de caráter mais técnico e histórico, trata da bomba em si e de detalhes do bombardeio. A segunda parte trata do impacto humano, de histórias e questões dos sobreviventes, e de como a bomba gerou questionamentos éticos e políticos até nossos dias, incorporando-se à cultura contemporânea.


O LEGADO CULTURAL NUCLEAR


Por muitos anos, o que ocorreu em Hiroshima e Nagasaki foi ocultado do grande público. Num primeiro momento, o governo japonês da 2ª Guerra ocultou os bombardeios atômicos do povo japonês, com a distorcida prioridade de manter o "moral popular e das tropas elevado". Num segundo momento foi a vez do governo americano, logo após a rendição do Japão, pelas também distorcidas razões e estratégias da nascente Guerra Fria. Em qualquer tipo de guerra, a ética e o humanitarismo são as primeiras vítimas.


Relatos superficiais do grau de destruição causado pelos bombardeios atômicos geraram um sentimento generalizado de medo, que se acentuou a partir de 1949 quando a União Soviética conseguiu fazer explodir sua primeira bomba nuclear num teste, iniciando uma corrida armamentista bipolarizada. A restrição de informações, entretanto, não fez com que o medo se dissipasse - muito ao contrário. Em 1954, um teste de armas termonucleares americanas no Atol de Bikini chegou à potência de 15 megatons (o equivalente a 15 milhões de toneladas de TNT, ou cerca de 1.150 bombas de Hiroshima). A sensação de que a humanidade era capaz de cometer um haraquiri nuclear a qualquer instante, dependendo do estado de espírito de líderes políticos confortavelmente instalados em bunkers, não era infundada.


A mera possibilidade de uma hecatombe nuclear gerou um medo que se instalou na cultura da época, e a censura sobre o assunto na mídia - fosse ela auto-promovida ou não - fazia com que o tema fosse tratado apenas de forma poética ou através de analogias. É curioso observar que assunto tão sério foi tema de vários filmes de baixo orçamento do então engatinhante gênero ficção científica. Popular, mas tratado com desdém pela crítica especializada, este gênero de filmes refletiu o medo nuclear da época e produziu um ícone. "Godzilla" (em japonês, "Gojira"), filme de 1954 dos estúdios Toho, foi protagonizado por um monstro gigante gerado pelos testes em Bikini, que chega ao Japão destruindo tudo pelo caminho com seu enorme rabo e matando pessoas com seu bafo radioativo, numa analogia aos bombardeios atômicos. Em 1959, "Hiroshima Mon Amour", produção franco-japonesa, ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes e tornou-se um sucesso internacional tratando de forma séria mas poética a questão do medo nuclear, apresentando imagens dos sobreviventes da bomba atômica como pano de fundo de um filme romântico.


Entre os japoneses, entretanto, há um traço marcante resultante da experiência atômica: o caráter pacifista. A consciência de que a energia nuclear traz mais problemas que benefícios fez do país uma das poucas nações-membro do seleto grupo dos mais ricos do mundo capaz de desenvolver armas nucleares, mas que se abstém de fazê-lo. Um dos benefícios de tal opção está no fato do Japão não apenas ser a 2ª maior economia do mundo, mas também ser um dos países com a melhor distribuição de renda do globo. O dinheiro que seria gasto com armas simplesmente foi usado em propósitos mais positivos. Mágoas à parte, os hibakusha são sinceros quando dizem "que sejamos os únicos". E que nunca mais ocorra o que ocorreu em Hiroshima e Nagasaki.


Fonte: http://www.culturajaponesa.com.br/htm/bombaatomica.html
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