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PARA ENTENDER A RADIOATIVIDADE

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O ACIDENTE RADIOATIVO DE GOIÂNIA

Nota: A SULEIDE é um órgão do governo, logo todas as informações aqui contidas tem caracter oficial. NÃO NECESSARIAMENTE CORRESPONDEM INTEGRALMENTE A REALIDADE. O artigo a baixo não deve ser considerado como única fonte de informação.

Veja também ->  AUTOPSIA 

PARA ENTENDER A RADIOATIVIDADE 

A matéria é formada por átomos, que podem agregar-se em moléculas. Os átomos constituem-se basicamente de elétrons, prótons e nêutrons. Prótons e nêutrons (dito “número de massa”) formam o núcleo do átomo, ao redor do qual orbitam os elétrons. “Número atômico” de um átomo corresponde à quantidade de prótons ou de elétrons, que é a mesma. Então, a diferença entre número de massa e número atômico corresponde ao número de nêutrons do átomo.

Um mesmo elemento pode ter núcleos com massas diferentes, e a diferença encontra-se no número de nêutrons. As várias formas de um elemento cujos núcleos contêm números diferentes de nêutrons são conhecidas como “isótopos”. Alguns isótopos existem naturalmente, outros foram criados artificialmente. Alguns são estáveis, outros são instáveis, isto é, se desintegram espontaneamente para formar outras combinações de prótons e nêutrons.

Os isótopos instáveis (ou radioativos) são também chamados radioisótopos ou radionuclídeos. Na natureza, encontramos vários radionuclídeos: 14C, 3H, 235U, 40K, etc. Outros são produzidos intencionalmente em laboratórios. O Césio-137 (137Cs) é um isótopo radioativo, proveniente da fissão do urânio ou do plutônio, que se desintegra formando o Bário-137. Os elementos radioativos possuem um excesso de massa, de energia, ou de ambos.

Quando eles se livram desse excesso, partículas e/ou energia são emitidas sob a forma de “radiação”. Radiação é energia que se difunde de uma fonte e que se propaga de um ponto a outro. Algumas são bastante conhecidas: calor, luz, ondas de rádio e TV, etc. Se a radiação possuir energia suficiente para arrancar elétrons orbitais de outro átomo qualquer, criando os pares iônicos, dizemos que a radiação é “ionizante”. O 137Cs produz radiação ionizante.

Foi a partir do século XIX que se denominou “radioatividade” a forma de energia penetrante emitida por elementos radioativos que se propagam de um ponto a outro através de partículas (com ou sem carga elétrica) ou através de ondas eletromagnéticas. Todo material radioativo perde sua energia com o passar do tempo. Essa busca de maior estabilidade energética constitui o “decaimento radioativo”, e a porcentagem de átomos que se desintegram por unidade de tempo é constante. Portanto, após um período de tempo que varia segundo o elemento em questão, o número de núcleos residuais (que ainda não se desintegraram) cai à metade. È esse período que se chama “meia vida” de um elemento radioativo. As meias-vidas dos radioisótopos variam de segundos até alguns bilhões de anos:
16N - 7,5 segundos
24Na - 15 horas
58Co - 71 dias
238U - 4,5 bilhões de anos (USADO NA BOMBA ATÔMICA)
138Cs - 32 minutos
137Cs - 33 anos

São vários os tipos de radiação ionizante. As partículas mais importantes são: alfa (α), beta (β), gama(γ) e raios X. As partículas alfa (α), de massa maior e velocidade menor conseguem penetrar alguns milímetros na pele humana. Uma simples folha de papel poderá blindá-las. Já as partículas beta (β) tem massa menor e velocidade maior, sendo mais penetrantes e possuindo um alcance maior. Para blindá-las, pode-se usar uma placa de alumínio de poucos milímetros.

Mais penetrantes que estas duas são as partículas gama (γ) e os raios X, sendo que todas as quatro provocam reações nocivas para o organismo humano tanto interna quanto externamente, no entanto, uma partícula alfa (α) provoca um dano biológico 25 vezes maior que um “fóton” de Raios X para uma mesma dose absorvida se ela for emitida no interior do corpo.

O 137Cs emite partículas beta (β) e gama (γ), sendo esta última de elevada energia e muito penetrante. Caso este elemento seja ingerido ou inalado, os seus raios beta (β) provocam uma contaminação interna com dano biológico considerável, proporcional à quantidade absorvida.

Verificada esta contaminação, torna-se necessária a ingestão de medicamentos que captem o 137Cs e provoquem a sua rápida eliminação por meio das excretas (suor, urina e fezes).
É bom lembrar que as pessoas não estarão contaminadas por terem sido irradiadas, pois a contaminação interna e/ou externa depende do contato direto com o elemento radioativo e não apenas da exposição externa. No entanto, todas as pessoas contaminadas terão sido irradiadas.

Ao ser contaminado e/ou exposto a altas doses, o individuo manifestará a chamada “Síndrome Aguda da Radiação” - SAR - que se caracteriza por sintomas gastrointestinais (náuseas e vômitos); queda de cabelos; sintomas neurológicos; distúrbios do comportamento; alterações hematológicas (anemia e depressão medular) e “radiolesões”.

As radiolesões ou radiodermites surgem em caso de contaminação externa ou exposição superficial excessiva: é o efeito da absorção de energia das radiações pelas moléculas do organismo, semelhante a queimaduras, apresentando quadro de hiperemia, formação bolhosa, áreas de despigmentação e hiperpigmentação e, por último, necrose.

A radiodermite apresenta três estágios:

A) Estágio físico, no qual ocorrem interações entre a radiação e a matéria viva, acarretando o aparecimento de átomos e moléculas excitadas e ionizadas. Essa fase tem duração muito curta (da ordem de 10 - 17 segundos) e os produtos nela formados são altamente reativos;

B) Estágio químico, caracterizado pela reação dos produtos surgidos durante o estágio anterior, ou por reações desses produtos com moléculas vizinhas, o que conduz a formação de produtos secundários. A duração desse estágio é variável (de frações de segundos a várias horas);

C) Estágio biológico, no qual as reações químicas, resultantes das fases anteriores, podem afetar processos fundamentais para o sistema biológico, modificando certas funções e bloqueando outras. É nesse período, cuja duração varia de algumas horas até anos, que ocorrem a morte celular, o aparecimento de mutações e as recidivas locais.


Dependendo da intensidade de penetração das partículas, as radiodermites poderão ser superficiais ou profundas. Caso sejam superficiais, elas provocarão apenas alterações nas camadas superficiais da pele, com resolução imediata. Já as radiodermites profundas normalmente atingem a derme, o tecido celular subcutâneo, músculos, vasos sanguíneos e nervos. Suas características são peculiares. Através de exames anatomopatológicos, percebem-se degenerações na rede vascular, onde ocorre, principalmente, esclerose vascular hialina. Neste aspecto, as radiodermites diferem substancialmente das queimaduras: a oxigenação permanece prejudicada, sem o auxilio da circulação colateral. Apesar da baixa oxigenação algumas radiodermites cicatrizam. No entanto, há casos em que o tecido cicatricial continua a sofrer o processo de esclerose vascular, ocorrendo alterações inflamatórias inespecíficas e degeneração hialina próprias de lesões recidivantes. Levando-se em conta a localização da fonte, são dois os tipos de radiodermites: direta e indireta.
- As “diretas” surgem após a absorção de energia pelas biomoléculas;
- As “indiretas”, após a absorção de energia pelo meio.

Neste ultimo caso, uma pessoa vitimada por elevada contaminação interna pode vir a contaminar outras pessoas com as quais tenha contato.

No caso do acidente radioativo de Goiânia, 28 pessoas apresentaram radiodermites superficiais e profundas, 08 delas com Síndrome Aguda da Radiação, das quais 04 foram a óbito.

As demais fazem parte dos 118 pacientes acompanhados pelas equipes da Fundação Leide das Neves Ferreira, atualmente Superintendência Leide das Neves Ferreira (SULEIDE), instituição que executa o monitoramento epidemiológico e estudos sobre a exposição ao 137Cs, e que presta assistência social, odontológica, psicológica e médica aos radioacidentados de Goiânia.

Dentre os pacientes com radiodermites assistidos pela SULEIDE, percebe-se que os casos da “recidiva” se verificaram com maior freqüência em extremidades (mãos e pés), onde a microcirculação terminal dificulta o aparecimento da circulação colateral. Isto também explica as dificuldades em conseguir bons resultados nos casos de enxertia já executadas entre estes pacientes.

Acidentes envolvendo o 137Cs podem ocorrer nas áreas de indústria, medicina ou pesquisa, mas são raros. Daí a importância que assume o ocorrido em Goiânia, fato agravado por ter envolvido um grande número de pessoas e atingido área de extensão significativa.



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